Após protesto realizado ontem por indígenas, em frente à Funai (Fundação Nacional do Índio), o superintendente da Polícia Federal em Roraima, Herbert Gasparini, informou que na semana que vem estará em Brasília se articulando, especificadamente, no sentido de conseguir apoio logístico para realizar ainda no primeiro semestre deste ano uma incursão à terra indígena Yanomami, para retirar garimpeiros.
Segundo ele, devido à dificuldade de acesso à área, que só é possível por meio de aeronaves, a execução de uma operação na reserva necessita de uma logística maior do que em outras áreas, como é o caso da Raposa Serra do Sol, que tem acesso via terrestre.
Gasparini explicou que primeiramente planeja-se entrar na área com o efetivo local para mapear e fazer levantamento da presença de garimpeiros na reserva Yanomami. Diante do que for levantado, poderá se traçar uma operação maior com reforço de efetivo de outras superintendências regionais.
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Não se sabe ao certo hoje o número de garimpeiros que atuam dentro da reserva indígena. Mas, conforme o quantitativo levantado em 2005, o número era menor do que o apresentado pela Hutukara Associação Yanomami, de dois mil.
No final do ano passado, a PF deflagrou a operação Escudo Dourado, em conjunto com o Exército. Com a ação, duas balsas utilizadas pelos garimpeiros foram desativadas. Depois disso, foram realizados alguns sobrevoos na área. Para apurar as denúncias da Hutukara de que garimpeiros tinham atirado contra índios de uma comunidade Yanomami, mais uma vez a PF fez sobrevoos na terra indígena.
“Estamos nos articulando para fazer uma grande operação, inclusive para fazer um levantamento do número de garimpeiros na área. A Polícia Federal tem atuado porque o nosso interesse é preservar o meio ambiente, principalmente coibir a devastação que os garimpos causam à natureza. O nosso objetivo é combater a mineração ilegal e os crimes do meio ambiente e ainda garantir a proteção das comunidades silvícolas”, destacou Gasparini.
Na reserva Yanomami é onde há a maior incidência da atividade de garimpo, mas na terra indígena Raposa Serra do Sol também existe a exploração ilegal de minérios.
Com relação aos fazendeiros, o superintendente da PF destacou que as propriedades estão sub judice, ou seja, há processos na Justiça dos fazendeiros contra a demarcação, por isso não pode ser determinada a retirada.
“É um processo judicial que uma hora a Justiça vai resolver, e o que for determinado a Polícia Federal vai cumprir, mas antes a questão precisa ser resolvida para podermos agir. Nem eles [os indígenas] podem tirar, e nós precisamos esperar a decisão da Justiça”, concluiu Herbert Gasparini.
Índios protestam contra permanência de fazendeiros e ação de garimpeiros
Índios Yanomami e Ye’kuanas realizaram ontem pela manhã uma manifestação pacífica em frente à sede regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em protesto a exploração ilegal dos minérios e permanência de fazendeiros na terra indígena Yanomami, localizada na parte oeste de Roraima.
Aproximadamente 50 indígenas de diversas etnias ligados à Hutukara Associação Yanomami (HAY) foram em passeata da sede da entidade indígena, no bairro São Pedro, até a Funai. Com pinturas no corpo e flechas nas mãos, os índios tomaram a via que fica na frente do prédio da fundação e realizaram danças típicas. Utilizando um carro de som, os pontos de protesto eram anunciados.
Faixas com frases como “Funai cumpra o seu papel de retirar os invasores” e “Chega de invasão. Fora os fazendeiros e garimpeiros” foram estendidas pelos indígenas.
Conforme documento elaborado para ser entregue ao administrador regional da Funai, Gonçalo Teixeira, nos últimos três anos a atividade garimpeira tem aumentado significativamente. O problema é ainda maior nas regiões do Catrimani 1, Paapiu, Kayunau, Parafuri, Surucucu e Aratau.
“Os garimpeiros já estão roubando nossas roças e ameaçando nossos parentes. Eles já atiraram com espingarda em um grupo de jovens Yanomami que se aproximou deles na região Hoyamou. Em janeiro do ano passado um índio Ye’kuana foi assassinado por garimpeiros. Estamos com medo que aconteçam coisas piores”, relataram os indígenas no documento.
O coordenador da Hutukara, Davi Kopenawa Yanomami, destacou ainda os prejuízos que a atividade traz ao meio ambiente. Os garimpeiros abrem pistas clandestinas na floresta, usam motores, balsas e produtos, poluindo os rios. Desde que o problema aumentou, a entidade vem buscando solução junto às autoridades competentes protocolando documentos exigindo providências.
“A Funai está dormindo. Abandonaram a gente e agora só olham para a Raposa Serra do Sol. É hora de olhar para o povo Yanomami. Os garimpeiros ameaçam os indígenas, destroem a natureza e ainda estão levando doenças para o povo. E os fazendeiros estão desmatando a floresta. Estamos lutando pelo nosso povo, nossa terra e nossa floresta”, disse Kopenawa.
Segundo os indígenas, cerca de dois mil garimpeiros atuam de forma irregular na reserva, inclusive pessoas da Venezuela, país que faz fronteira com a terra indígena. “A Polícia Federal não tem controle efetivo. Os garimpeiros usam armas de fogo ameaçando os Yanomami. Se algum índio morrer com arma de fogo, quem vai correr atrás? Nós conversamos com eles, mas não somos autoridades para retirá-los”, comentou Dário Vitório Kopenawa, diretor da Hutukara.
FAZENDEIROS – Mesmo depois de 18 anos da homologação da reserva Yanomami, cerca de cinco fazendeiros ainda permanecem na área. Na fronteira leste da terra indígena, na BR-210, perimetral norte, mais especificadamente na região do Ajarani, é onde estão os não-indígenas.
De acordo com o documento elaborado pela entidade, assim que a reserva foi homologada a Funai fez levantamento fundiário e indenizou a maior parte dos proprietários de terra na região. Porém, um pequeno grupo ingressou na Justiça para que a obrigatoriedade da retirada fosse suspensa.
Apesar de em 2004 o Tribunal Regional Federal (TRF) ter reconhecido que as áreas são dos Yanomami, os fazendeiros permanecem na área até hoje.
FUNAI – O coordenador regional da Funai, Gonçalo Teixeira, ao receber das mãos dos indígenas o documento de reivindicação, informou que a presidência da fundação em Brasília já tem conhecimento do teor das exigências. Mas, para reiterar o pedido, estará enviando cópia.
“Esperamos que possam tomar as providências cabíveis com relação a retiradas dos invasores, sejam eles garimpeiros ou fazendeiros. A última operação realizada foi em meados de 1991, 1992, e de lá para cá não teve operação efetiva na terra indígena. Foram feitos trabalhos esporádicos, mas não uma retirada em peso. A gente espera fazer isso o quanto antes e ainda este ano”, destacou Gonçalo.
VANESSA LIMA (V.L)